Olho as inúmeras prateleiras e gavetas arejadas do meu closet e penso. Melhor, não penso: pego a roupa mais bobinha, o sapato baixo mais sem graça e saio à rua. Vou ao banco, pondero. Vou pagar contas, não depositar milhares de reais na minha conta. Penso , sim: Ninguém vai reparar. Vou e volto rápido. Vou de carro. Ninguém vai me ver. (Parece que penso que sou invisível. Que se eu não quiser, ninguém vai me notar)E as roupas bonitas, novinhas, recém compradas, ficam lá. Esperando não sei o quê.
Esses dias usei um desses vestidos novos. Soltinho, colorido, balonê leve acima dos joelhos. Um pouquinho, só um pouquinho transparente. Nem chega a ser. Apenas insinua.
Passei mal. Do início até quase o fim da XV, as pessoas me olhavam. Me olhavam dos pés à cabeça. Falei pessoas, porque não eram apenas homens que me olhavam. Mas mulheres também, e sem disfarçar. Olhavam descaradamente, principalmente se os seus pares olhavam primeiro.
Cheguei a entrar numa loja, procurei um espelho livre do provador e me olhei de alto a baixo. Como não vi nada errado, nem sujo, nem rasgado,nem estranho, perguntei à vendedora que , solícita, veio me atender.
- Diga-me uma coisa. Tem algo errado com meu vestido? Tem tanta gente me olhando na rua, que estou ficando irritada.
Ela disse: Não tem nada errado com sua roupa. Está bonita. Só isso.
Descobri que tinha razão. Poderia me tornar invisível quando bem entendesse.
Terezinha Manczak
(em anotações puras e simples)
domingo, 24 de janeiro de 2010
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