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sexta-feira, 16 de abril de 2010

A princesa da torre Marquês de Maricá
Terezinha Manczak

Seus pés são leves e delicados como duas pequenas nuvens, branquinhas e macias. Sobem e descem as escadas da torre, graciosos, envoltos em sapatilhas rosa de balé.
Tic-tac e presilhas prendem seus cabelos, para que os cachinhos dourados não escondam seus lindos e curiosos olhinhos azuis.

Quando os pais se mudaram de uma cidadezinha de origem germânica, do sul do Brasil, para um grande centro próximo à Vilha Velha, no Paraná, a primeira coisa que ela fez, foi deslumbrar-se com o belo castelo, escolhido pelos pais, ainda vazio e cheirando a tinta fresca. Olhava em volta e dizia:
- Que grande, Vovó ! Eu gosto “dessa” casa nova!

Enquanto os carregadores traziam os móveis do caminhão de mudanças para o interior da nova residência, ela e a Vó subiam para o segundo piso, para descobrirem onde ficava o seu novo quartinho. Eram três quartos. O dos pais, a suíte, tinha vista para a rua.

Os outros dois, menores, davam para a vista da cidade, repleta de telhados verdes, cinzas, vermelhos e cor de barro cozido. De cima, se avistavam as grandes e seculares araucárias, com suas copas verdes e repletas de pinhas. Um dos quartinhos seria de Roberta, sua irmãzinha mais nova. O da direita seria o seu.
Olhando em volta, sorria e imaginava, que quando chegasse a noite, era ali que dormiria e que guardaria seus brinquedos.

Seu baú cheinho de livros de histórias infantis ficaria ao lado da cama. Ela não conseguia conciliar o sono sem seus amiguinhos de capas coloridas e cheios de letrinhas e desenhos de fadas, princesas, patinhos, bolas, flores, passarinhos e bonecas. Não dormia sem que a mãe lhe contasse ou lesse uma historinha.

De repente, ouve-se um barulho inconfundível, o apito de uma locomotiva.
A avó levanta a neta nos braços e corre até a janela:
- Maria Eduarda, vem! Vamos ver o trem! Daqui da janela do seu quarto dá para ver o trem passando. Corre!

Curiosa, subiu no colo da avó que a adora, para olhar pela janela.
Olhou por cima da copa dos pinheiros, das casas e dos muros. Atenta, viu antes que sua avó, os vagões que se moviam vagarosamente, um tanto encobertos pela paisagem.
- Thomas! É o Thomas!
Vibrava e repetia, com os olhinhos brilhando e cheios de encantamento.

sábado, 10 de abril de 2010

Haicais











Lavoura de maio -
Arado imprime em fileiras,
promessas de pão.


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Noites de agosto -
Rasgos de luz na vidraça,
vento nos trigais.

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Ribeiro da infância -
Entre a colina e a pastagem,
canção matinal.

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À entrada do sítio -
cheiro de figos maduros,
pomar maternal.

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Nos campos de inverno -
Avô de capa e cachimbo,
nem uma vez mais.


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Brancas margaridas,
escondem pétreos segredos-
entre antigos muros.

Terezinha Manczak