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sábado, 30 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010

Com que roupa?

Olho as inúmeras prateleiras e gavetas arejadas do meu closet e penso. Melhor, não penso: pego a roupa mais bobinha, o sapato baixo mais sem graça e saio à rua. Vou ao banco, pondero. Vou pagar contas, não depositar milhares de reais na minha conta. Penso , sim: Ninguém vai reparar. Vou e volto rápido. Vou de carro. Ninguém vai me ver. (Parece que penso que sou invisível. Que se eu não quiser, ninguém vai me notar)E as roupas bonitas, novinhas, recém compradas, ficam lá. Esperando não sei o quê.
Esses dias usei um desses vestidos novos. Soltinho, colorido, balonê leve acima dos joelhos. Um pouquinho, só um pouquinho transparente. Nem chega a ser. Apenas insinua.
Passei mal. Do início até quase o fim da XV, as pessoas me olhavam. Me olhavam dos pés à cabeça. Falei pessoas, porque não eram apenas homens que me olhavam. Mas mulheres também, e sem disfarçar. Olhavam descaradamente, principalmente se os seus pares olhavam primeiro.
Cheguei a entrar numa loja, procurei um espelho livre do provador e me olhei de alto a baixo. Como não vi nada errado, nem sujo, nem rasgado,nem estranho, perguntei à vendedora que , solícita, veio me atender.
- Diga-me uma coisa. Tem algo errado com meu vestido? Tem tanta gente me olhando na rua, que estou ficando irritada.
Ela disse: Não tem nada errado com sua roupa. Está bonita. Só isso.
Descobri que tinha razão. Poderia me tornar invisível quando bem entendesse.
Terezinha Manczak
(em anotações puras e simples)
Comer, rezar, amar.

Estou lendo um livro (Comer, rezar, amar) de Liz Gilbert, que já teve mais de quatro milhões de exemplares vendidos.
Ganhei de presente do meu filho.
Um dia antes do meu aniversário ele disse que iria me oferecer uma nova perspectiva (de vida).
Emocionei-me ao abrir o pacote de presente.Lia alguns trechos, ria, chorava, agradecia. Meu filho sabia que o livro mexeria comigo.
Esse romance eu vou ler até o fim. E será um daqueles para releitura, por ao menos mais uma vez.
Meus amigos sabem que se eu não gosto de um livro, não leio só por obrigação. Leitura,na minha opinião, é também entretenimento. Gosto dessas viagens fascinantes que faço através dos olhos de outra mulher, vivendo e modificando suas próprias histórias.
Também preciso comer, rezar e amar de jeitos novos. Comer de forma mais equilibrada, rezar para pedir exatamente o que eu quero e não deixar tudo para que Deus resolva. E o mais importante, reaprender a amar. Amar sem medo. Sei que foi por medo, medo de sofrer novamente e de forma tão intensa, que tranquei-me de uma forma que não faz bem a ninguém.
Às vezes deixo que pessoas se aproximem e fiquem um pouco, mas logo, ao primeiro sinal de um maior envolvimento, estabeleço rotas de fuga.
Certa vez, na Catedral de Blumenau,contei ao confessor que estava muito triste e até bastante deprimida,dizendo que depois do meu marido nenhum relacionamento mais dava certo.
Ele respondeu-me com outra pergunta:
- E você, está preparada para que dê certo?
Calei-me e até hoje não sei responder.

Tenho evitado entregar-me aos sentimentos e isso tem influenciado até na escrita dos meus poemas. Eles já não fluem de forma poética, amorosa e apaixonada.

Tenho escrito poemas de forma até mais rebuscada, talvez um pouquinho mais sofisticada, mas herméticos, como disse o Mestre Marcelo.
Sei que ele me diria agora, que o poema tanto pode ser de amor como sobre qualquer outro tema. Mas tem que haver poesia em cada verso.

Quem sabe, até o final da leitura desse livro maravilhoso, eu já tenha me "modificado" um pouco.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sem livros, eu seria quem?

Os livros que li me fizeram gente. Não há dúvida. Sou o que sou, em parte, por ter tido a decência de ler alguma coisa do que esteve ao meu ao alcance ao longo de minha vida. Antes de qualquer outra observação, tenho que dizer o quanto me sinto aflita, ao entrar numa grande livraria e constatar o quanto eu não sei. O que me falta ler. Talvez seu eu pudesse morar dentro de uma biblioteca ou numa dessas livrarias maravilhosas, coloridas, chamativas e bem arrumadas, e se eu não precisasse comer nem dormir, nem pagar contas, ou qualquer outra atividade comum aos humanos, eu poderia saciar-me dessa fome de descobrir o que há por dentro dessas capas tão bem elaboradas.
A primeira biblioteca que conheci foi na escola primária. Ajudei a organizar. Todos os livros eram encapados com papel verde, numerados e separados por assunto. Todo sábado, podíamos levar livros para casa. Devolvíamos na segunda-feira. Eu levava dois pequenos ou um grande. Durante a semana, líamos em sala de aula.
Em minha casa, papai assinava a Revista "O Cruzeiro". É claro que eu devorava. Uma vez,acho que por volta dos oito anos, perguntei a ele o que era "conforto flutuante" e para que servia uma coisa feita de "pétalas macias". Lembro que ele esquivou-se e nunca me respondeu. Mais tarde, descobri que o anúncio que mostrava uma bela moça num balanço, com os cabelos soltos ao vento, era a propaganda de um absorvente feminino.
Meu tio assinava a Revista Seleções e me emprestava, assim que chegava a outra.
Era um mundo que chegava até minhas mãos sem que eu fizesse nenhum esforço...
Até hoje, quando leio essa revista, tenho a sensação de que o tempo não passou. Ela continua igual. Mas o mundo mudou. A minha vida mudou. O bombardeio diário de informações e acontecimentos me causa um tipo grave de frustração. O tempo não espera e as necessidades são tantas...

Convívio

Nem faz tanto tempo assim, mas já estava com saudades dos amigos. Faz parte da minha vida esse convívio. Escrever e dialogar com vocês, mesmo que virtualmente, é meu chão. Meu pão e meu conforto.
Tenho alguns blogs mal administrados, por isso reabri este com nova proposta, sem o compromisso de ser isto ou aquilo. Uma decisão tomada para 2010, é a de falar menos e escrever mais. Ouvir mais e aprender, idem. Ler mais e mudar muito o jeito de ver as coisas.
Estou exercitando a prática do desapego às causas pré-estabelecidas. Quero ousar mais. Quero viver!
Minha felicidade hoje seria completa se eu fechasse minha casa e mudasse para Santo Antonio de Lisboa. Tenho fixação por esse cantinho encantado da Ilha de Santa Catarina.
De tradição açoriana, me fascina pelo seu artesanato, as redes de pesca, o colorido do casario. A culinária perfumada de mar.
Teria uma casinha branca com janelas azuis,à beira mar. À noite, deixaria sempre uma janela aberta para deixar entrar a luz da lua.
Apenas dois quartos, cozinha e banheiro. O que sobrasse de espaço, seria o meu ateliê de tecelagem. Lá eu passaria horas tecendo novas descobertas. Meu panos seriam mais rústicos e cheio de cores que não combinam entre si. Mas que enchem os olhos de qualquer cristão.
Eu fugiria das regras e padrões. Inventaria uma cor para cada novo olhar, sob as estrelas das noites de verão.
Sairia para caminhar de madrugada e em cada pedra da calçada rutilaria uma palavra nova para um poema novo. Olharia os transeuntes e diria sem pronunciar uma palavra, eu faço parte desse universo. Eu quero estar aqui.
Eu vim!
Estou aqui para deixar sair de dentro de mim, uma mulher florida.
Sou lagarta secando ao sol de Blumenau. Preciso liberar minhas asas.
Terezinha Manczak

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

(para Lindolf Bell)

numa clarividência explícita,
exposto em fogo e formas,
o sentimento.
imemorial, quem sabe,
angelical, talvez.
rompido como cascas de fruto maduro,
escuros senões de insensatez.
Terezinha Manczak

sábado, 9 de janeiro de 2010

Microcontos

Atrito
Dois palitos de fósforo, de cabeça quente, discutiram até esgotarem o assunto.

Engenheiro
O João - de - barro para impressonar a noiva, construiu na marquise duma cobertura.

Manchete
O ladrão levou o filho para ajudá-lo no assalto. Deixou-lhe por herança um par de algemas.


Granizo
A chuva encheu de gelo os copos-de-leite, depois de cinco minutos de precipitação.

Confissão
O padre não aguentava mais ouvir os pecados da Jussara. Até no banheiro ela o seguia.

Que mar...
A água do mar cheirava mal. Quando voltei à praia, a cabeça de peixe ainda estava lá.

Terezinha Manczak

Versos desconexos e a lua desperdiçada

As manhãs de Drumond traziam leite, jornal e calma. Mesmo quando as noites tinha sido, de breu e solidão.

Uma chef de cozinha, na Tailândia, pratica pesca de prancha, antes de preparar o almoço. Ela não se importa com o mar de lama. Importa o berbigão.

O feijão é deixado de molho por doze horas. Bem cedinho, já fumega no caldeirão. Não sobra um grão.

Mãos de Dionísio, cavalo - marinho a visitar meus mares. Sedução.

Tanta claridade, às 05:45, acordou-me antes da hora. Fui até o jardim e avistei a lua, que ainda brilhava no céu. Recolhi o jornal e voltei para a cama. Aguns dias fui poeta. Porém, hoje, não.

Terezinha Manczak

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Já é outro dia

Em 2010, agora no comecinho, já contabilizo algumas importantes mudanças. Chamo essas mudanças de libertações.
São como roupas que não servem mais, que tornaram-se ridículas, e você retira do armário para que entrem outras mais apropriadas.

Um emprego, uma associação e um trabalho voluntário. Foi tudo muito bom. Mas é hora de pegar as malas e partir para novas aventuras. Eu disse aventuras?
Não foi bem isso que quis dizer. Aventuras mesmo só se eu deixar o país e viajar sozinha, sem conhecer nada do país escolhido.

Sinto -me livre. Como alguém que acordou pela manhã e o dia está lindo. Faz sol, alguém lhe deixou um polpudo cheque sobre sua mesa e é feriado. Você pode ir para onde quiser, fazer o que quiser e com quem quiser.

Tenho 18 anos novamente.

Hoje sei que era medo

" Alguém disse que meus poemas estão ficando herméticos.
Não sei se foi elogio ou uma pesada crítica. O estranhamento é porque não escrevo mais poemas simples, amorosos e poéticos como há dez, 15 anos atrás?

A cada dez anos minha vida muda radicalmente. Na década de 90, tornei-me uma mulher só.
Não solitária, mas livre. Livre de doer. " Até que a morte os separe". Conhece?

Posso até falar, mais tarde, em alguma crônica, como cada uma dessas décadas se modificaram. Mas posso assegurar a quem quer que seja, que as mudanças sempre foram para melhor. Quer dizer: nenhuma me puxou pra baixo. Antes, me trouxeram algum tipo de evolução